terça-feira, 12 de abril de 2016

Todos temos medo do que não conhecemos. Isso é natural.



"Tenho medo de morrer", disse a folha a Daniel. "Não sei o que tem lá embaixo."
"Todos temos medo do que não conhecemos. Isso é natural", disse Daniel para animá-la. "Mas você não teve medo quando a primavera se transformou em verão. E também não teve medo quando o verão se transformou  em outono. Eram mudanças naturais. Por que deveria estar com medo da morte?"
 (Leo Buscaglia, História de uma folha)


Sob o ponto de vista sistêmico, a morte é vista como um processo transacional que envolve o morto e os sobreviventes em um ciclo de vida comum, reconhecendo tanto a finalidade da morte quanto a continuidade da vida. Buscar equilíbrio nesse processo é tarefa à ser enfrentada na vida familiar. O luto é uma experiência complexa que atinge não só o indivíduo como também a família e o sistema social. 

Podemos observar que a morte faz parte do desenvolvimento humano, quando desde pequena a criança vivência situações de perda, como por exemplo, a morte de seu bichinho de estimação, a quebra ou perda de seu brinquedo favorito, entre outras. Tais perdas vão ajudando a criança a elaborar uma representação da morte que vai evoluindo gradualmente, em concomitância com o seu desenvolvimento cognitivo.

A sociedade, muitas vezes, supõe que a criança não compreenda a morte e, dessa forma, considera prejudicial tudo que lhe é associado. Acredita-se que as crianças não estão preparadas emocionalmente para lidar com a morte, fazendo com que este tema seja abordado com um silêncio amedrontador, desconversando ou protegendo-se com metáforas, quando se trata de conversar com os pequenos sobre esse tema. A partir desta crença surgem as mentiras ou histórias fantasiosas contadas às crianças para esconder uma realidade sobre a qual, sem dúvida, elas vão interrogar.

Os adultos por não saberem como abordar o tema com as crianças, por temerem as possíveis reações e pôr ao falaram sobre o tema terem que defrontar sua própria finitude, medos e ansiedades, eles preferem evitar o assunto, fazendo de conta que a morte não faz parte do universo infantil. Vale lembrar que não apenas tenta proteger a criança da morte em si, mas também dos sentimentos associados a esta, como por exemplo, a raiva, tristeza, angústias e o medo.

Aquele que comunica à morte para a criança também está de luto, portanto, sofre e necessita de apoio tanto quanto a criança. Desta forma, ele pode não saber como agir, não ter as respostas e/ou as palavras adequadas.

Ao comunicarmos à criança o falecimento de um ente querido, deve-se levar em consideração a concepção que ela tem sobre a morte para assim termos clareza do que ela é capaz de compreender nas diferentes etapas do desenvolvimento. Ao falar da morte com as crianças, a informação deve ser clara e sincera, em uma comunicação aberta sobre os fatos e circunstâncias da morte, respondendo às perguntas, compreendendo as emoções e dando suporte para o enfrentamento ao luto. Além disso, usar palavras e citar experiências que possam ser compreendidas pela criança pode auxiliar o processo. 

Durante o esclarecimento da morte, as próprias palavras da criança podem ser um facilitador no processo, permitindo que se estabeleça um diálogo. Ao fazermos isso, a criança estabelece o tom e o ritmo da conversa. Dessa forma, o adulto poderá respeitar o nível de desenvolvimento da criança e utilizar uma linguagem acessível. importante deixar a criança fazer perguntas ou manifestar-se por meio de gestos ou brincadeiras. A criança pode expressar sua curiosidade e seu sofrimento pela linguagem verbal (palavras), como também por uma linguagem não verbal (jogos, gestos e desenhos). O adulto deve estar atento a essas linguagens para que não haja mais dor ou solidão. O silêncio pode ser apropriado para o adulto, mas nem sempre é para as crianças, pois para elas o sofrimento pode passar despercebido.

Até a próxima,
Laura

Fonte: KOVÁCS, M.J. (coord). Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992. 132 p. 
       PAIVA, L.E. A arte de falar da morte para crianças: a literatura infantil como recurso para abordar a morte com crianças e educadores.São Paulo: Idéias & Letras, 2011.
       WALSH, F. & MCGOLDRICK, M. (1998). A perda e a família: uma perspectiva sistêmica. In:F. Walsh, & M. McGoldrick. Morte na família: sobrevivendo às perdas. (p. 27-55). Porto alegre: Artes Médicas

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