segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Mulheres expatriadas!



O post dessa semana é mais um da série sobre migração, e neste vou falar um pouco sobre as mulheres expatriadas. 

Expatriação é um processo complexo que envolve a mudança cultural do executivo expatriado e sua família até à disponibilidade de entrar em contato com novos valores, crenças, regras, novas formas de se expressar, pensar e se comportar.

Por muitos anos quando falava-se em expatriação, o foco concentrava-se no executivo expatriado. Mas de uns anos para cá, o cenário mudou e além do executivo, muito se tem falado sobre o ajustamento intercultural da esposa e dos filhos para uma adaptação satisfatória da família e dos fatores que podem facilitar esse processo. 

Sabemos que mudar de país não é fácil. Requer coragem e paciência. O ajustamento a este novo momento vai passar por fases e serão muitos os desafios cotidianos. Para as mulheres e filhos, estes desafios podem ser maiores. Já que é preciso encarar um novo idioma, cultura, costumes, fazer e manter um novo círculo de amigos e por ai vai...

Além dessas mudanças, cabe dizer que muitas vezes o indivíduo que imigra fisicamente nem sempre imigra emocionalmente, uma vez que ultrapassar as fronteiras geográficas não se constitui a tarefa primordial da migração, mas sim transpor as barreiras sociais, econômicas, culturais e linguísticas.

Para ilustrar melhor essa situação, trago uma breve entrevista feita com a Ana Paula, jornalista, paulistana e que mora em Amsterdam desde 2004 e tem o blog Ana de Amsterdam, no qual ela escreve excelentes posts sobre sua vida na Holanda, sobre seus filhos, dicas de viagens e muito mais. 

Entre uma roda de amigas expatriadas é comum perguntarmos umas às outras o motivo que a fez sair do seu país de origem e geralmente a resposta sempre está relacionada ao “amor” ou há alguma “aventura”. No seu caso, qual foi o motivo que te fez deixar seu país? 

Foi por amor. Conheci meu marido, holandês, durante suas férias no Brasil. Nos apaixonamos e passamos dois anos viajando entre Brasil e Europa. Depois decidimos ficar juntos de vez: dei entrada no visto, fiz as malas e me mudei para Amsterdam. 

Além dos desafios sociais e culturais que a mulher expatriada vivencia ao mudar de país, o maior deles é ‘começar a vida novamente’, ou seja, fazer amigos, procurar um novo trabalho/ocupação e viver o mais normal possível na nova cultura. Como foi esse processo para você? 

Logo que cheguei me matriculei em um curso de holandês. Saia de casa todos os dias para estudar, conheci gente e pouco a pouco fui me integrando à cidade. Depois de 3 meses arrumei um emprego, trabalhar me ajudou muito a entrar na vida holandesa. 

Falando sobre filhos, como a cultura holandesa pode auxiliar na criação de filhos brasileiros? Como é educar filhos com duas culturas?

Acho que os holandeses são mais tranquilos, bem mais relaxados que os brasileiros e isso é muito positivo. Aqui as crianças são mais livres e independentes, claro que a violência é incomparável com a do Brasil, então é impossível analisar as diferenças culturais da mesma forma. Nós vamos para a escola de bicicleta, eu posso deixar meus filhos sozinho brincando na rua e por ai vai, coisas que talvez não faria se estivesse morando em São Paulo. 

Depois de tantos anos fora do seu país e com uma família formada na Holanda, você ainda se sente como uma mulher expatriada? Como é a vida para quem vive fora do país de origem por tanto tempo?

Eu tenho meus momentos brasileira e meus momentos holandesa. Estou muito acostumada ao país e a cultura, me sinto em casa em Amsterdam. Mas não cresci ali, minhas memórias, meus exemplos de infância são brasileiros. Eu tento aproveitar o melhor das duas culturas, gosto da estrutura e da liberdade holandesa mas sinto falta do calor humano brasileiro. Quero que meus filhos cresçam com um pé no Brasil, que eles entendam nossa relação com família e que saibam que a porta de casa está sempre aberta para amigos, mesmo sem ter marcado hora para visita. 

Até a próxima,
Laura


FONTE:  BECKER, A.P e BORGES, L. Dimensões psicossociais da imigração no contexto familiar.  Bol. Acad. Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil - V. 35, no 88, p. 126-144.

Nenhum comentário:

Postar um comentário